Eu sei que eu não entendo nada de futebol, se bobear entendo menos que nada. Mas não precisa entender de futebol pra achar um absurdo o que aconteceu no estádio no domingo passado.
Estávamos eu, minha mãe e minha irmã conversando na sala, com a televisão ligada, sem prestar muita atenção. Mas quando a cena começou, não tivemos como não notar o que estava acontecendo. Simplesmente ficamos sem reação.
Eram mesmo pessoas fazendo aquilo? Qual era mesmo o motivo da violência gratuita? Qual era a razão de utilizar um pé de mesa pra bater em alguém que já estava caído e sem reação? Qual é a diversão que pisar na cabeça de alguém proporciona? O que isso tem a ver com torcer?
Eu não vou nem entrar no fato de ser esse o país que vaio sediar a Copa, porque, sinceramente, não tenho estômago pra isso. Não tenho estômago pra pensar que tá todo mundo em festa enquanto o cenário nos estádios é esse aí. Não consigo pensar nas razões que levam pessoas desse tipo a entrarem em um estádio e, do nada, começarem uma briga com o time adversário. Cara, se tem uma coisa que eu sempre falo -e sou sempre mal encarada por isso- é o que todo mundo deveria ter em mente: É só futebol. Não vai decidir sua vida, não vai te dar um salário de jogador de futebol, nem se o seu time ganhar. Apesar de ser divertido torcer -na opinião de alguns-, é inútil esfregar na cara do colega que o seu time é melhor. Primeiro, não foi você que jogou, não foi você que treinou o time e você não teve nenhuma participação no bom desempenhos dos jogadores. Você só torce. Qual a causa da rivalidade? Como o brasileiro consegue tornar uma coisa que devia ser divertida nisso? Ver uma torcida vibrando com um gol nos 45' do segundo tempo é bonito de ver. Olhar pra arquibancada e ver todo mundo prendendo a respiração, esperando pra soltar o grito preso na garganta. É isso que as pessoas querem ver. É isso que deixa o futebol legal. Não um bando de torcedores achando que a rivalidade entre eles é real, como se a violência fosse resolver qual time é melhor.
Os próprios jogadores estavam abalados com a situação. Luiz Alberto chegou a chorar.
Desde quando futebol se tornou mais importante que a vida das pessoas?
Eu sei, o Brasil mesmo não teria moral pra fazer essa pergunta. Quando foi mesmo que melhoraram os hospitais antes de pensar em reformar estádios? Hmmm.. Quando foi que a educação veio na frente do futebol, senão no dicionário? Pelo que eu entendo, saúde e educação também são inerentes à vida.
Acho que falar disso só me dá tristeza. Não consigo não pensar que, enquanto o "Rio está melhorando" pra receber a Copa ano que vem, tudo que não precisa ser mostrado pros outros países não ganha a mínima atenção.
Um exemplo disso foram as chuvas recentes. Creio que muita gente sofreu com elas... Creio que muita gente não tá nem aí pra Copa enquanto tenta resgatar seus bens dentro da água barrenta que bate nos joelhos. Muitas cidades da Baixada foram afetadas, muita gente perdeu tudo que tinha. E, o que não perdeu na primeira chuva, perdeu na segunda.
No meu trajeto casa-estágio fico olhando pela janela a condição dos lugares que eu passo. Os arredores de Triagem causam dor no coração. As casas que beiram a Via Light também. Isso porque não busco exemplos em outros lugares, porque eu sei que tem.
Enquanto isso, Ronaldo e Pelé seguem espalhando a alegria de suas asneiras por aí. Enquanto isso as obras e investimentos pra Copa ganham mais atenção. Enquanto pessoas morrem no corredor de um hospital e outras morrem de fome dentro de casa. Não consegui me manter focada em assunto nenhum, mas eu queria tanto dizer essas coisas.
A realidade é essa. A tristeza da cena de domingo é a mesma tristeza das cenas de todos os dias. Enquanto torcedores são violentados uns pelos outros, a população é também violentada pelos donos do poder.
Enquanto o futebol valer mais que uma vida, não há o que a gente possa fazer.
Queria também dar uma sugestão pros criadores da marca do governo federal "País rico é país sem pobreza." Usem essa frase como legenda da foto do estádio cheio durante a Copa. Duvido que com ingressos que chegam a R$ 1.980* dê pra ver a pobreza desse rico país.
* ingressos pra final
