A mulher sempre foi considerada o “sexo frágil”, pois, nas décadas passadas, alguns aspectos convergiam para esse ponto, como a dependência emocional e a financeira. O homem era visto como a figura que supriria suas necessidades e, por isso, casar-se era fundamental.
Aos vinte anos, caso não estivesse envolvida em um relacionamento sério, uma moça era vista como “solteirona”, uma vez que considerava-se normal constituir família cedo. As que casavam tinham que saber administrar a casa, cozinhar, lavar, passar e aprender a cuidar dos filhos. Após casar, a mulher serviria de dona-de-casa e viveria às custas do marido, dependendo dele tanto emocional, quanto financeiramente.
Algumas tarefas eram predominantemente masculinas. Mulheres não tinham destaque na sociedade e eram privadas de certas atividades, até mesmo de exercer seu papel de cidadã, seja votando ou trabalhando. Foi com muito esforço que a mulher conseguiu seu lugar.
Uma prova desse rótulo preconceituoso eram as propagandas de vários produtos há algumas décadas, nas quais “Amélias” posavam sorridentes ao lado de produtos típicos de cozinha que iam desde gêneros alimentícios a utensílios milagrosos. Ou então seguravam uma vassoura, um aspirador de pó ou algo relacionado à casa. Também o modo como os próprios maridos se referiam às qualidades de suas esposas, utilizando características como “prendada”, “limpinha” e “cozinha de tudo”, ratificava a visão da época.
O século XX foi de extrema importância para as mulheres que lutavam pela igualdade de gêneros. Houve, entre outros acontecimentos, algumas figuras femininas que se destacaram na luta pelo voto feminino e, baseadas nas próprias leis estaduais ou federais, conseguiram ser julgadas aptas a exercer seus direitos políticos, obtendo sua inclusão no rol dos eleitores.
Após a estudante Mietta Santiago obter uma sentença permitindo que ela votasse em si mesma para vaga de deputada federal, o Partido Republicano do Rio Grande do Norte lançou a candidatura de Luiza Alzira Soriano Teixeira que, em 1929, tornou-se a primeira mulher a exercer um cargo político no Brasil. Em 1934, a deputada Carlota Pereira de Queirós representou o sexo feminino na elaboração da nova Constituição do país e, nesse mesmo ano, o sufrágio feminino foi regulamentado.
Se na área política a mulher já havia conseguido seus direitos, faltava agora conquistar a igualdade perante outros segmentos da sociedade. A mulher não estava satisfeita com a vida de doméstica submissa e dependente da renda do homem da casa. Os movimentos feministas lutavam também pela inclusão da mulher no mundo profissional.
Na década de 70 houve um aumento considerável da participação feminina no mercado de trabalho. As mulheres eram mais empregáveis e elas representavam mão de obra barata, uma vez que o salário pago às mulheres era menor do que o que se pagava aos homens. Atualmente as mulheres ainda sofrem com a desigualdade da remuneração entre elas e os homens e, por enfrentar o preconceito dentro do ambiente de trabalho, devem estar mais preparadas do que eles para assumirem os mesmos cargos.
A feminista e escritora francesa, Simone de Beauvoir, diz o seguinte: “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separa do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta." E, apesar do preconceito ainda existir nessa área, a mulher gradativamente tem sido reconhecida como profissional. Junto a esse reconhecimento vem o sucesso na carreira, uma possível promoção e certa independência financeira. Agora, a mulher que se via fadada a depender do marido, além de poder colaborar com a renda familiar, consegue gerir e sustentar seu próprio lar, sem precisar do apoio de uma figura masculina.
Ao se ver em uma condição econômica que a permite escolher entre iniciar uma relação amorosa, ou optar por ficar sozinha, a mulher adquire mais confiança e, por não depender de um homem, passa a ser independente também na área emocional.
Como contribuição à independência feminina, criou-se a pílula anticoncepcional, que, combinada a outros fatores, permite que as mulheres casadas decidam quantos filhos querem ter e as solteiras não se comprometam seriamente com nenhum parceiro. Não acostumados a essa nova posição diante dos relacionamentos, os “machistas”, confusos com a situação que se inverteu, partem para atitudes drásticas, como se quisessem mostrar ao sexo oposto quem manda e desmanda em uma relação.
Qual seria, então, o aspecto que caracteriza a mulher como o “sexo frágil”? A classe masculina, em geral, tem mais força física. Muitos homens têm se aproveitado desse fato para agredir, violentar ou mesmo matar uma mulher. De acordo com a ONU, existem os “Doze Direitos da Mulher” e, dentre eles “Toda mulher tem direito a não ser submetida a torturas e maltratos.” Segundo o estudo “Mapa da Violência no Brasil 2010”, do Instituto Sangari, dez mulheres morrem por dia, vítimas da violência doméstica.
A fim de minimizar os números dessa estatística, foi criada a Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Mas, mesmo com a aprovação dessa lei, a segurança da mulher não está totalmente garantida, tendo em vista que ela só vale para quem agrida a mulher com quem viva sob o mesmo teto.
Têm sido noticiados muitos casos de violência contra a mulher, sejam crianças, adolescentes, adultas ou idosas. Alguns deles, de maior repercussão, foram os de Eloá Pimentel, de Eliza Samúdio e de Mércia Nakashima, nos quais as três foram mortas pelos seus ex-companheiros.
Como é possível que os homens cogitem ter o direito de ferir e matar uma mulher, em uma atitude claramente covarde? Pierre Bordieu (1988, p.15) diz que a força masculina não precisa de justificação e a ordem social ratifica a dominação masculina. A sociedade é machista, e alguns pais criam seus filhos dentro desse conceito. O pensamento machista prejudica as mulheres e qualquer tentativa de construir uma sociedade igualitária.
Na sociedade atual, apesar de as mulheres já terem provado que são tão capazes quanto os homens, ainda existe o preconceito e a desigualdade entre os sexos. Mas, certamente, as mulheres já deram um grande passo em direção à tão sonhada igualdade. Em grandes empresas, por exemplo, já existem mulheres ocupando cargos de chefia ou outros que eram considerados cargos tipicamente masculinos. Há também mulheres que recebam salários mais altos do que seus próprios maridos e homens que invertem os papéis com a esposa e passam a ser os domésticos.
As feministas, aos poucos, adquirem a possibilidade de serem pareadas e tratadas de igual para igual diante do sexo oposto. Apesar desse avanço, isso pode não ter sido o fim dos problemas, mas, sem dúvida podemos considerar o início de uma nova fase Não só para as mulheres, que conquistaram um pouco mais de igualdade e reconhecimento, mas também para os homens que, além de serem obrigados a se acostumarem com a “invasão da mulher no seu mundo”, ainda terão que se conformar com a dimensão que o reconhecimento do sexo feminino tem tomado na sociedade.
Texto que eu enviei pro concurso de redação do CNPq ano passado, :D
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